Texto
transcrito do livro “Reforma Íntima Sem Martírio”
A
reforma íntima é um trabalho processual, que significa aquilo que obedece a uma
sequência. Em conceito bem claro, é a habilidade de lidar com as
características da personalidade, melhorando os traços que compõe suas formas
de manifestação: caráter, temperamento, valores, vícios, hábitos e desejos, são
alguns desses caracteres que podem ser renovados ou aprimorados. Nessa saga de
mutação e crescimento, o maior obstáculo é transpor o interesse pessoal, o
conjunto de viciações do ego repetido durante variadas existências corporais e
que cristalizaram a mente nos domínios do personalismo.
O
hábito de atender incondicionalmente as imposições dos desejos e aspirações
pessoais levou-nos à cruel escravização da qual muito será exigido nos esforços
reeducativos para nos libertarmos do “império do eu”. Negar a si mesmo ou
“despersonificar-se”, esvaziar-se de “si”, tirar a máscara é o objetivo maior
da renovação espiritual. Esse é o grande desafio a ser seguido por todos (...)
Extenso
será esse caminho reeducativo na vitória sobre nossa personalidade manhosa e
talhada pelo egoísmo...
O
meio prático e eficaz de consegui-lo, conforme ensinam os Bons Espíritos da
codificação, é o conhecimento de si mesmo.
Entretanto,
para levar o homem ao aprimoramento, ao autodescobrimento exige uma nova ética
nas relações consigo e com a vida: é a ética da transformação, sem a qual a
incursão no mundo íntimo pode estacionar em mera atitude de devassar a
subconsciência sem propósitos de mudança para melhor(...)
Nem
sempre, porém, verifica-se tanta clareza de raciocínios acerca dessa questão.
Conceitos mal formulados sobre o que seja renovação interior têm levado muitos
corações sinceros a algumas atitudes de puritanismo e moralismo, que não
correspondem ao lídimo trabalho transformador da personalidade, em direção aos
valores capazes de solidificar a paz, a saúde e a liberdade na vida das
criaturas.
Por
esse motivo, será imperioso que as agremiações espiritualistas, fraternais ou
religiosas do mundo (...) expandam a luz da espiritualização entre os homens,
investiguem melhores noções sobre a ética
da transformação, a fim de oferecer a seus profitentes uma base mais
cristalina sobre os caminhos e percalços no serviço da iluminação de si mesmo. A prática essencial e meta fundamental dos
ensinos dos Grandes Mestres são a melhora da humanidade, a formação do homem de
bem. Espiritualizar-se em verdade, está nos elos que criamos uns com os outros,
e que passam a fazer parte da personalidade nova que estamos esculpindo com o
buril da educação. Os “ritos” ou práticas doutrinárias são recursos didáticos
para o aprendizado do amor – finalidade maior da evolução.
Na
falta do amor, as práticas perdem seu sentido divino e primordial. Em face
dessas reflexões, evidencia-se a urgência da edificação de laços de afeto nos
grupamentos humanos, no intuito de fixarmos na intimidade as mensagens do
Evangelho e do bem universal. Afeto é seiva vitalizadora dos processos
relacionais e o construtor de sentidos nobres para a existência dos homens.
O
autoconhecimento (...) é um mapa de como chegar ao “eu verdadeiro”, à
consciência. Todavia esta viagem não pode ser feita somente com o mapa,
necessita de suprimentos morais preventivos e fortalecedores, necessita de uma
ética de paz consigo próprio. Somente se conhecer não basta, é necessário um
intenso labor de auto aceitação para não cairmos nas garras de perigosas
ameaças nessa “viagem de retorno a Deus”, cujas mais conhecidas são a culpa, a
autopunição e a baixa autoestima as quais estabelecem o clima de martírio. É
preciso uma ética que assegure à transformação pessoal um resultado libertador
de saúde e harmonia interior. Tomar posse da verdade sobre si mesmo é um ato
muito doloroso para a maioria das criaturas.
À
guisa de sugestões maleáveis, consideremos alguns comportamentos que serão
efetivos roteiros de combate, vigília e treinamento para instauração das linhas
éticas no processo transformador:
POSTURA
DE APRENDIZ: jamais perder o viçoso interesse em buscar o novo, o desconhecido.
Sempre há algo para aprender e conceitos a reciclar. A postura de aprendiz se
traduz no ato da curiosidade incessante, que brota da alma como sendo a sede de
entender o universo e nossa parte na “dança dos ritmos cósmicos”. Romper com os
preconceitos e fugir do estado doentio da autossuficiência.
OBSERVAÇÃO
DE SI MESMO: é o estudo atento de nosso mundo subjetivo, o conhecimento das
nossas emoções, o não julgamento e a auto avaliação constante. Tendemos a
avaliar o próximo e esquecer do serviço que nos compete, no entanto,
relembremos que perante a imortalidade só responderemos por nós, no que tange
ao serviço de edificação dos princípios do bem na intimidade.
RENÚNCIA:
A mudança íntima exige seletividade social dos ambientes e costumes, em razão
dos estímulos que produzem reflexos no mundo mental. No entanto, a renúncia
deve ampliar-se também ao terreno das opiniões pessoais e valores
institucionais, para os quais, frequentemente, o orgulho nos ilude.
ACEITAÇÃO
DA SOMBRA: sem aceitação da nossa realidade presente, poderemos instaurar um
regime de cobranças injustas e intermináveis conosco e posteriormente com os
outros. A mudança para melhor não implica em destruir o que fomos, mas dar nova
direção e maior aproveitamento a tudo que conquistamos inclusive nossos erros.
AUTOPERDÃO:
a aceitação para ser plena precisa do perdão. Recomeço é palavra de ordem nos
serviços de transformação pessoal. Sem ela o sofrimento e a flagelação poderão
estipular provas dolorosas para a alma. É uma postura de perdão às faltas que
cometemos, mas que gostaríamos de não cometer mais.
CUMPLICIDADE
COM A DECISÃO DE CRESCER: o objetivo da renovação espiritual é gradativo e
exige devoção. Não é serviço para fins de semana durante a nossa presença nas
tarefas do bem, mas sérvio continuado a cada instante da nossa vida, onde
estivermos. Somente assumindo com muita seriedade esse desafio que o levaremos
avante. Imprescindível a atitude de comprometimento com a meta de crescimento
que assumimos. Somos
egressos de experiências frustradas no desafio do aperfeiçoamento pessoal,
portanto, muito facilmente somos atraídos para ilusões variadas. Somente com
severidade e muita disciplina construiremos o homem novo almejado.
VIGILÂNCIA:
é a atitude de cuidar da vida mental. Cultivar o hábito da higiene dos
pensamentos, da meditação no conhecimento de si, da absorção de nutrição mental
digna nas boas leituras, conversas, diversões e ações sociais. Vigilância é a
postura da mente, alerta, ativa, sempre voltada a ideais enriquecedores.
ORAÇÃO:
é a terapia da mente. Sem oração dificilmente recolheremos os germens divinos
do bem que constituem as correntes de Energia Superior de vida. Através dela,
igualmente, despertamos na intimidade forças nobres que se encontram adormecidas
ou sufocadas pelos nossos descuidos de cada dia.
TRABALHO:
Os sábios guias da codificação asseveram que toda a ocupação é útil, é
trabalho. Dar utilidade a cada momento dos nossos dias é sublime investimento
de segurança e defesa aos projetos de crescimento interior.
TOLERÂNCIA:
toda evolução é concretizada na tolerância. Deus é tolerância. Há tempo para
tudo e tudo tem seu momento. Os objetivos da melhoria requerem essa
complacência conosco para que haja mais resultados satisfatórios. Complacência
não significa conivência ou conformismo, mas caridade com nossos esforços.
AMOR
INCONDICIONAL: aprender o auto amor é o maior desafio de quem assume o
compromisso da reforma íntima, porque a tendência humana é desgostar de sua
história de evolução, quando toma consciência do ponto em que se encontra ante
os Estatutos Universais da Lei divina. Sem auto amor a reforma íntima reduz-se
a “tortura íntima”. Aprender a gostar de si mesmo, independente do que fizemos
no passado e do que queremos ser no futuro, é estimar a si próprio, um estado
interior de júbilo com nosso retorno lento, porém gradativo, para uma
identificação plena com o pai.
SOCIALIZAÇÃO:
se o interesse pessoal é o grande adversário de nosso progresso, então a ação
em grupos de educação espiritual será excelente medicação contra o personalismo
e a vaidade. Destaquemos assim o valor das tarefas doutrinárias regadas de
afetividade e siso moral. São treinamentos na aquisição de novos impulsos.
CARIDADE:
se socializar pode imprimir novos impulsos e reflexões no terreno da vida
mental, a caridade é o “dínamo de sentimentos nobres” que secundarão o processo
socializador, levando-o ao nível de abençoada escola do afeto e revitalização
dos ensinamentos espíritas.
Conviveremos
bem com os outros na proporção em que estivermos bem conosco mesmo. A adoção de
uma ética de paz, no transcorrer da metamorfose de nós próprios, será medida
salutar no alcance das metas que almejamos, ao tempo em que constituirá
garantia de bem-estar e motivação para continuidade do processo.
O
exercício de negar a si mesmo não inclui o descuido ou descrédito pessoal,
confundindo a sombra que precisamos reciclar com as necessidades pessoais que
não devemos desprezar, para o bem estar e equilíbrio.
Cuidemos
apenas de atrelar essas necessidades de conformidade com os novos rumos que
escolhemos.
Fazemos
essa menção porque muitos corações queridos do ideal supõem que reformar é
negar ou mesmo castigar a si, quando o objetivo do projeto de mudança
espiritual é tornar o homem mais feliz e integrado à sua divina tarefa perante
a vida.
Nos
celeiros de luz dos repositórios do Evangelho, verificamos um exemplo de rara
beleza e oportunidade que servirá como diretriz segura para a
“despersonificação” dos servidores do Cristo, na obra do amor: Ananias, o
apóstolo chamado para curar os olhos do Doutor Tarso. Quando o Mestre o chama
pelo nome, o colaborador humilde, com prontidão e livre dos interesses
pessoais, responde sadiamente “Eis-me aqui Senhor!”. O nome desta virtude no
dicionário cristão é disponibilidade para servir e aprender, o programa ético
mais completo e eficaz para quantos desejam a auto iluminação.
Do
Livro Reforma Íntima sem Martírio, Editora Dufaux – Ermance Dufaux
Psicografada
pelo Médium Wanderley S. de Oliveira.
As cincos estradas da vida para chegar auto conhecimento "DEUS", Humildade, Perdão, Caridade, Amor, Fé
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